Contam que um rapaz muito humilde vivia como nômade sempre buscando um lugar aconchegante para deixar seus animais. Houve um dia em que ele, rodando por um sitio abandonado, viu uma casinha muito velha, que sem dúvida estaria sem ninguém há algum tempo, lá resolveu ficar por uma noite. Amarrou seu jumentinho e seus dois cabritos, puxou a rede da sacola e na parte externa conseguiu armar sua rede, bem na varandinha, preferiu ficar na parte de fora, não sentia-se bem de entrar na casa. Depois foi até a mata atrás de alguma lenha para que pudesse fazer uma fogueira, já que brevemente anoiteceria e não poderia ficar a mercê do frio.
Como já tinha experiência na mata, acendeu sua fogueira sem muita dificuldade, pegou seu cantil e resolveu curtir a noite estrelada. O céu estava lindo, havia nuvens claras, como as das tardes de verão o vento soprava lentamente fazendo um assobio único, a melodia perfeita do sono. Deu mais um gole na aguardente sentindo os lábios adormecerem, deu mais outro gole e num sobressalto lembrou-se que tinha que alimentar os animais. Puxou a sacola do jumentinho e serviu um pouco a cada um. Os bichinhos estavam bem maltratados, mas eram ótimas companhias, sempre a seu lado, podia ser o tempo ou o local que fosse.
O céu já estava escuro e fazia um frio bem suave, resolveu dormir um pouco, não era muito tarde, mas havia sido um longo dia e precisava descansar. Dormiu quase de imediato, deitado na porta da cabana. No meio da noite acordou meio assombrado, pois sua rede estava embalando-se quase que com uma força descomunal. Aquilo o deixou assustado, parou a rede e lavantou-se olhando em volta a noite era escura, não queria dormir dentro da casa, não tinha coragem de deixar seus animais sozinhos, poderia surgir algum animal selvagem e ele queria estar próximo para proteger seus amigos. Mas então, o que diabos, haviam balançado sua rede?
Puxou sua espingarda e olhou em volta para ver se encontrava algum animal, ou algum engraçadinho, o que seria improvável. Ouviu um barulho, quase que um chiado, parecia pessoas conversando... –seriam índios? - Olhou novamente, mas parou e mais nada, nem um som, nem mesmo os grilos faziam cri-cri, barulho natural. Ele achou aquilo tudo muito estranho, mas resolveu dormir novamente, talvez tivesse ele mesmo balançado a rede dormindo, nunca se sabe.
Deitou-se novamente, mas desta vez com a espingarda entre os braços, pois um homem precavido sabe que é melhor fazer papel de bobo do que de irresponsável. Fechou os olhos e tentou dormir, mas não demorou muito e sentiu como se joelhos estivessem forçando nas suas costas, virou-se quase que de imediato com a arma em punhos, mas nada viu. Neste exato momento achou que não se tratava mais de um sonho e sim de algo muito estranho.
Levantou-se da rede e foi pegar seus animais, e logo que desamarrou o primeiro cabrito suas patas traseiras pareceram flutuar no ar, como se mãos invisíveis a puxasse. O Rapaz começou a gritar puxando o animal de volta, mas o cabrito era puxado com tal força que tornava impossível deter, era como se uns vinte homens puxassem do outro lado. O animal gritava desesperado e suas pernas já sangravam ameaçando romper. Num ato de desespero, e pena do animal, ele o soltou e o deixou ir.
O cabrito foi puxado como se voasse para o meio das arvores, lá ele ouviu um barulho horrível como o de ossos sendo quebrados.
Ficou de joelhos e chorou copiosamente, tentando imaginar o que estava acontecendo.
Mesmo com o pavor a flor da pele foi em busca dos outros animais e percebeu que o outro cabrito estava sendo puxado também por aquela força estranha. Caiu de joelhos e pediu a Deus que poupasse sua vida e a vida de seus animais. Neste exato momento o cabrito caiu por terra, e ele quase que automaticamente o pegou, depois pegou jumentinho, jogou seu animal ferido sobre os ombros e saiu correndo dali.
Correu em direção a mata e quando voltou os olhos para a casa, viu onde estava sua rede uma velha com uma aparência horrível que sorria para ele.
Ninguém sabe ao certo o que tal mulher disse aquele homem, só dizem que ele saiu correndo é passou quase um dia perdido como que louco pela mata. Só após algum tempo as pessoas encontraram seus animais e ele todo ferido deitado sobre um leito de rio e com os olhos fitando o nada.
Foi muito tempo até ele recuperar-se e contar o que havia ocorrido, ele só não consegue lembrar-se do que aconteceu depois que ele olhou para aqueles olhos, que ele dizia serem totalmente malignos.